21 de outubro de 2003

Sobre Lya

"Tendo consciência de que amando-nos mais poderíamos viver melhor, passaremos a trabalhar nisso. Começamos tentando mudar de perspectiva: em lugar de enxergar só a parede em frente, contemplar um pedaço que seja de paisagem. Passar de vítima a autor de si mesmo é um bom movimento.
Amadurecer auxilia na tarefa de ver melhor a realidade, e não é uma catástrofe. Ler ajuda. Abrir os olhos para o belo e o positivo ajuda. Amar e ser amado ajuda. Terapia ajuda. No mínimo, ajudará a mantermos a cabeça à tona d`água em lugar de nos afogarmos na autocomiseração.
Reinventar-se inteiramente é impossível: o contorno dessas margens, o terreno de que são feitas está estabelecido. Trazemos uma chancela na alma _ mas podemos redefinir seus limites. Quem sabe mudamos as cores aqui, ali abrimos uma clareira e erguemos um abrigo.
Muito vai depender do quanto esperamos e acreditamos."

Este é um trecho de Perdas & Ganhos, da escritora gaúcha Lya Luft. Não sei. Tem muita gente que diz que os livros do Paulo Coelho são enriquecedores. Pode ser e aí não vai nenhuma crítica ao autor e seus fãs.
Mas esse livro da Lya Luft tem me ajudado muito, juntando idéias aparentemente desconexas, movendo neurônios na direção de reflexões, me obrigando a me questionar e questionar o que rola ao meu redor. Iluminando, enfim. Estou entrando numa parte do livro em que ela fala da velhice. E ao terminar de ler o capítulo, ontem à noite, me perguntei: desde quando o processo de envelhecimento foi perdendo a dignidade nas sociedades ditas ocidentais? Eu tenho pistas, arrisco algumas respostas, mas desconfio que pouca gente pensa sobre isso. E caminha em direção ao passar dos anos não como um presente, mas como um fim inevitável, decrépito e doloroso.
Pois é Lya: precisamos urgentemente redefinir nossos limites, já que reinventar-se é mais difícil.

Gilberto Scofield

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