2 de agosto de 2006

Eu vou te contar um segredo


Aparentemente tudo está como deveria estar. Aparentemente o olhar alheio não percebe as mensagens sublineares que meus gestos e piscadelas querem evidenciar. Aparentemente eu ainda mantenho o sorriso esticado e a espinha ereta frente a tarefas inglórias como ouvir uma "piada" mal digerida (que aflige) vinda de uma amigo querido ou lidar com a ineficiência generalizada acerca dos pensamentos maternos. E fora o expurgo nesse blog - altamente suspeito - , tudo deverá permanecer como está, aparentemente.

É quase cármica essa minha vocação tolerante. Por que?
Porque sou assim, assaz romântico, educado, polido e preocupado. Porque uso adjetivos demais na tentativa de melhor definir o que há de ser definido. Porque compreendo demais e quase num relance de entrega - arrisca-se a dizer até "singeleza" - ofereço a outra face.

Assim, parece que o heterônimo cai como uma luva. Mas na verdade não sugere o vilão que está adormecido desde terna infância. O vilão que como FernandaYoung muito bem descreveu num bate papo anos atrás, tem pensamentos "indevidos". Pensamentos e desejos catárticos onde não tolerar, não se importar, não cativar, não amar, circulam livremente e vagueiam. E devo confessar, assim bem baixinho, que em momentos de dor abissal, quando tudo parece perdido e inverossímil, eles se fecundam e multiplicam; na vã tentativa de sair do imaginário saudável.

Longe do utópico, voltando a realidade fantástica que é estar nessa fase dos vinte aos trinta, eu desejo mudar. I need to change; but how can I change?
Será preciso uma paixão arrebatadora como a de Luísa por Basílio? Será preciso uma revolução nacional, a qual me desperte interesse, para me jogar às ruas com afinco entre as balas da oposição contra a situação? Será preciso fugir desse meio manchado de carmim, das pequenas alegrias?

Será preciso tolerar por mais algum tempo? Suportar o inverno e manter os segredos?

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