Capítulo 1 (Hollywood)
Sentado no canto do quarto com o rosto apoiado nos joelhos e um taça de vinho na mão.// Na estrada de Nova York para Dakota sigo chorando, com dois maços de cigarros no bolso e um fino aceso entre os dedos. Tremo e mal consigo manter a cabeça de pé. Ao lado, no carona, um saco de papel da farmácia (cheio de caixas - ansiolíticos, parece) e latas de cerveja (elas degelam).// Ela o ama mas não o conhece tão bem. Ele sua frio nas mãos mas precisa dizer. Ainda não tem coragem e pede um copo de vodka. As pupilas dilatam// Um sofrimento aqui outro ali. vertigem. Dirijo a 115 km/h num desespero ensandecido. Sinto dor. Penso em muitas coisas além do medo da estrada escura às 2 da manhã: nas placas que indicam o caminho - e confesso que tenho fixação por placas. Quando era moleque, viajava no banco de trás do carro do tio, de joelhos, contando as placas que passavam pelo caminho e imaginando que rumo teria o dia se ao invés de cá fôssemos pra lá -; penso no perfume das folhas das árvores; no cigarro aceso que se desgasta tão rápido (vai me queimar - quero domar essa dor, sem pânico) com esse vento que muda tudo de lugar e refresca, e ventila, e congela o rosto, entrando pelas frestas das janelas.// Susan caminha pelo parque com Ethan. Mãos dadas e um brilho nos olhos que ele não consegue alcançar. Começa a chover.// Uma bad trip de morte, tão intensa e nítida como se já tivesse passado por ela: uma daquelas placas, talvez aquela antes da ponte. Fecho os olhos e vejo o mar: verde, cinza, turquesa. No mesmo instante um bombardeio de pensamentos em flashes que cegam e não param. São tantos e apenas um rosto - Ethan. // Susan entra em casa, com os sapatos nas mãos (Manolo), olha pra dentro do banheiro, ouve as mensagens na secretária eletrônica enquanto acende um incenso e abre as janelas da sala. A luz é difusa. Há alguém dentro da casa.// Meu desespero cresce, tomando-me pelo desejo contínuo de morte. Ainda tremendo, dou um trago e abro uma cerveja, olho pro saco de remédios. Tudo parece tão mais fácil do que realmente é nesse vislumbre. Sou um cara triste, tenho um carro verde e estou passando por uma noite atípica. Meu nome é Theodoro, uso cílios e gloss.// Estava esperando você.
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