Me perdi ( ou 'um delírio no mam' )
E não é que ele me convenceu a fazer ali mesmo, no banheiro da festa luxuosa. Um ser de outro esquema, outras paradas e piadas elegantes. Do tipo que te esnoba e você goza, sabe? Ele é assim, escorregadio, lascivo e tórrido. Como num romance futurista de Nelson Rodrigues: um caos de desejo. Eu me arriscava por ali com o topete no alto, camisa italiana e lápis no olho. Entre muitos nobres, um plebeu endinheirado e com sorte. Ele notou o meu tipo e se encantou. Foi à primeira vista. Jogou charme, pediu uma música pro dj, tirou a camisa num piscar de olhos e segurou a minha mão. Ousado por abusado, mas eu permiti. Faz parte de um showzinho particular ceder a corpos sarados e instigantes. E me deixei levar pela brisa fresca que invadiu meu corpo, pincelando meu tórax, meu rosto, minhas mãos... transpassava o tweed da calça, alcançava os poros e eriçava os pelos - não só os pelos, os músculos. Um sorriso de lá, um suspiro de cá e o pancadão na cabeça: eletrohouse do Ung pra ninguém botar defeito. O que foi feito do instante em que ficamos, do momento em que meus chacras cruzaram com os dele eu não consigo lembrar; na pista a gente perdeu a linha e o plano era só nosso. Cada centelha da estrobo era um registro de luz quebrada para nossa barbárie em êxtase. Mas num determinado momento, de clareza e surto ele me arrastou da pista e me fez juras de tesão urgente. Quase gozei. Pôs a mão onde o sol não bate e me olhou urgente. Descendo pela escadaria espelhada, paramos no toilet: roxo, com orquídeas brancas no chão e louças negras; sedas em tiras como cortina, perfume de sândalo. E nós, com olhos vidrados um no outro, mãos dadas e expulsando todo medo dali, detonamos; me perdi na bruma branca que envolveu nossos corpos. E a noite, ah ... estava só começando.
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