Deeply romantic
Ao que me parece, eu sou romântico, do tipo simples. Ao julgamento público, de repente, sou romântico do tipo chato, meloso, ou não tão lovely assim.
E desse modo, com esses rótulos e imbuído do desejo de fechar o domingo com um prazer a mais que o de comer biscoitos amanteigados com uma xícara de chocolate quente, eu saí de casa no meio da chuva fina pra ir ao cinema.
Estava tudo planejado, até mesmo a idéia de que as emoções mais fortes poderiam surgir já rondavam o meu consciente; a roupa adequada para um dia de chuva, as cores de um dia de chuva na primavera carioca reforçavam o sentimento de prazer daquela tarde.
Comprei o ingresso para Antes do Pôr-do-sol - Before Sunset, um muffin de limão com aroma de morango e entrei na sala.
O filme foi rolando, os risos graciosos foram chegando, as cenas de Paris à tarde, o casal e seu bate papo gostoso, a sensação agradável de acompanhar os dois pelas ruas da cidade, o gostinho de limão na boca, a aliança na mão direita, a respiração em compasso com a deles, a emoção aumentando, a mão dela quase toca o cabelo dele, a angústia do que poderia ter sido... Aí não teve jeito. Foi maior que eu, foi forte demais.
Entreguei-me ao choro na sala de cinema. Fui bobo,eu sei; o casalzinho do lado, até deu uma risadinha da minha cara, do meu gesto de encantamento com a película do diretor Richard Linklater, o mesmo de Walking Life. Mas não fiquei vexado, engoli o choro e retomei o sorriso com a valsa que ela fez pra ele. Uma delícia de ouvir e de inspirar.
E daí pensei em como o diretor acertou, ou como eu estou indefeso à situações como essa, ou como sinto falta do Fábio, ou como sou bobo, ordinário como qualquer um.
Mas verdade é que Linklater propôs nesse longa bem curtinho, o mesmo realismo de Antes do Amanhecer - Before Sunrise (o longa que deu origem a essa seqüência), onde o mote principal é a tentativa de se captar o realismo de um romance próximo a qualquer outro mas sem os clichês já desgastados na telona.
Deu certo. A aproximação que Linklater fala estava visível nos rostos e conclusões de alguns quando saíram da sala. Estava claro que a inquietação de Celine e Jesse a respeito de seu romance-não-romance tinha pego de jeito os corações mais sensíveis - ou vulneráveis - da platéia. Foi mesmo lindo ver a reação dos outros com o término do filme. A música de Nina Simone ao fundo e mais uma vez após nove anos a comoção diante da ínfima possibilidade de uma nova chance, uma nova esperança.
Por esse filme, esse motivo, esse tom "deeply romantic" - como ratificou Jefferson Lessa no Rio Show - que digo que até aceito o rótulo clichezado de romântico e tudo que vem junto. Mas é preciso dizer também, e por isso estou aqui, que sou um tipo de cara que gosta de se identificar com sentimentos nobres e mundanos, que vê graça e se emociona com a felicidade alheia, que tem pouco tempo e oportunidade para os mil prazeres que rondam meu inconsciente mas mesmo assim fica contente em fazer listas desses desejos e sonha em realizá-los, que sou o tipo de cara que não tem ido muito à praia mas quando vai, fica até o finzinho, até ver e ouvir os aplausos da galera em agradecimento.
É preciso dizer que sou do tipo de cara que guarda na lembrança, nem que seja num fio de memória, a emoção que para mim foi revelada, dissecada, envolvida em charme e que se tornou magia. Assim como o encontro-romance de Jesse e Celine, Fábio e Mário, Renata e Alexandre, Rian e Leonardo, Romeu e Julieta ...
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