4 de agosto de 2004

Relaxa e escreve

Relaxa e escreve
Pois é, nasceu. Resplandece em sua tela esse textinho chulé e sem nexo. Só pra encher lingüiça, pra não ficar no vácuo, não perder audiência. Tô pior que o rato do ratinho e o sofá da Hebe. Tô brega, meio burro e chato. Sorte esse club não ser tv. Imagina o Dapieve e Madureira zoando da minha cara no Sem Controle do Armazém 41?! Fim de carreira, ninguém merece!
Mas eu admito que não tenho assunto. Não quero discutir os desmandos do nosso governinho playmobill de pistola na mão nem quero aplaudir o tetra das meninas do vôlei. Tô relapso. Sem ação. Tô bocejando no sofá com litros de suco na pança e livros incontáveis pra ler, empilhados na mesinha de centro. As férias estão acabando. Perdi a monitoria da facul. Tô praguejando aos ventos.
Ando lendo muito os artigos daqueles que mais adoro - Ana, João, Afonso e Cora - e tentando me inspirar na facilidade deles pra escrever sobre qualquer coisa. Ana por exemplo é tão sagaz que consegue acertar citando apenas a vida cor de rosa de sua prima Paula que está recém casada com um italiano de primeira; João reflete sabiamente sobre a boçalidade atual que nos ronda; Afonso, de volta do Teerã e agora em Londres debate sobre a sexualidade abusiva e escondida que nós humanos temos medode refletir e oscila entre Albee e Shakespeare como quem muda o canal da TV (o cara é um mestre); já a Cora, ah querida, Cora escreve divinamente e tenta se manter firme esses dias, entre emoções fortes: descreve a felicidadecom a pipoca (gatinha fofa e famosa) que está de volta, resgatada de seu breve rapto e se entristece ao lembrar do Fervil que partiu dessa pra uma melhor deixando muitos a chorar sua brutal perda.
Eu tô querendo esse tipo de facilidade no olhar das banalidade singelas e singularidades cruéis que se tornam maravilhas em caracteres.Mas tento fingir que não é comigo essa ânsia. Esse incômodo. Quê incômodo?Tô dando de ombros pra minha deprê que ronda e bloqueia. Mas também tô com medo, muito medo dela.Continuo lendo esses carinhas do jornal mas às vezes tenho raiva deles. - Inveja, diz tia Alice com um prato de sopa de letrinhas numa mão e o Calvino e seu "Por Que Ler os Clássicos" na outra. Não sei como ela consegue! Tô nem ai pra você tia!
Quero mais é ficar aqui nesse sofá de almofadas soft que eu copiei da Casa Cláudia. Assim meio largado e sem compromisso. Quero mais é ficar assim com o pijama de flanela que me lembra tanto o Fabinho e fogo de sua lareira. Tô num marasmo intelectual. Tô no orkut bisbilhotando a vida alheia e seus gostos duvidosos. Mas tô escrevendo esse texto para que você, Santo Mário, largue do meu pé e siga sua vidinha em frente. Só pra tapar o sol com a peneira. Só pra te dar um incentivo. Pra mostrar que não precisa esquentar a mufa. As coisas vão dar certo. Relaxa e escreve.

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